Se você é um apaixonado pela cutelaria, mesmo que iniciante, já percebeu que, para cada propósito e técnica, existe um tipo diferente de lâmina. Você sabe reconhecê-los? Esse processo é indispensável para quem não somente quer se tornar um especialista nas partes principais de uma boa faca, mas também para que o uso prático das lâminas no cotidiano ocorra da maneira mais eficiente o possível.
Pensando nisso, hoje vamos te mostrar de maneira simples e didática os principais tipos de lâminas, quais são suas características, para que fins são usadas e como são chamados cada desenho de facas. Vamos te explicar todos os nomes envolvidos nessa arte, mostrando onde fica cada detalhe e para o que serve cada parte desses instrumentos que tanto admiramos!
1. Lâmina de dorso reto (faca tradicional)
Nada melhor que começar nossa viagem pelos tipos de lâminas com a geometria mais tradicional para facas. Seu dorso reto é ideal para que se possa apoiar os dedos e realizar maior tração de corte, enquanto o fio é curvado de maneira suave para cima, característica que propicia a concentração de força em um só ponto.
Essa faca é amplamente usada em cortes de precisão e trabalhos que exigem controle, sendo perfeita para iniciantes devido à sua simplicidade. Pode ser usada para cortar, perfurar ou picar, e é essencialmente versátil, se destacando sobretudo nas cozinhas e em demais atividades do dia a dia.
2. Trailing point
Facas trailing point são aquelas que possuem uma curva acentuada para cima que envolve sua ponta e dorso. Esse formato permite que a faca mantenha um peso moderado enquanto provê uma grande superfície de corte, o que a torna muito eficiente nos movimentos cortantes, fatiamento e remoção de peles.
Apesar de seu uso tático destacado, elas são frequentemente escolhidas por caçadores para trabalhos de descarnar animais e também por chefs que precisam de precisão em cortes delicados. Tudo isso, é claro, se complementa ao fato do seu design elegante também ser valorizado pelos colecionadores.
3. Drop point
Um design bastante comum e eficaz para as facas de caça — e também um dos preferidos da Cutelaria CIMO! A lâmina drop point tem uma curvatura leve em todo o dorso, “caindo” em direção à ponta. Isso permite que o dorso se mantenha forte e resistente enquanto a ponta e o fio juntos oferecem grande capacidade de corte nessa região da ferramenta.
Além de sua versatilidade em tarefas de sobrevivência, como entalhes e raspagens, é uma escolha popular para canivetes táticos e utilitários. Esse formato é excelente para atividades que demandam precisão e força simultaneamente, sendo uma das lâminas mais populares do mundo.
4. Clip point
As facas clip point têm suas similaridades às drop points, com a principal diferença sendo seu dorso “clipado”, ou seja, recortado de maneira abrupta em direção à ponta. Esse recorte pode ser reto ou côncavo – e também pode ser afiado, formando um segundo fio e aumentando a eficiência de perfuração da faca.
Seu formato permite uma perfuração mais rápida e profunda, em especial se comparada às drop point knives. Em contrapartida, sua ponta mais fina e afiada é comparativamente mais fraca. Essa faca é amplamente utilizada em atividades de bushcraft, caçadas e até mesmo em combates, sendo altamente valorizada por sua versatilidade, eficiência e estética imponente.
5. Casco de ovelha (sheep foot)
Esse tipo de faca é assim chamado por ser tradicionalmente utilizado na remoção das peles de ovelhas, enquanto seu formato curvo remete justamente ao casco do animal.
O objetivo principal desse tipo de lâmina é evitar perfurações. Portanto, seu fio costuma ser reto, enquanto o dorso longo e cego se curva de maneira generosa para encontrar o fio.
Algumas adaptações dessa lâmina são chamadas “butcher’s knife”, ou faca de açougueiro, sendo também muito úteis em tarefas domésticas e mesmo industriais.
6. Spear point (ponta de lança)
Como o nome indica, esse design de faca se assemelha à ponta de uma lança a partir do fio e do dorso que se afunilam em direção à ponta. Uma porção considerável desse dorso também é afiada, o que permite que seja ainda mais agressiva em perfurações. Difere-se das adagas por ser mais curta, menos pontuda e não possuir completa simetria.
Dessa forma, elas se destacam em aplicações táticas e militares, as spear points são úteis em tarefas de precisão nas incisões, mas exigem habilidades avançadas para manejo. Há, ainda, as needle points, que são adagas ainda mais finas e mais pontudas, conhecidas por sua letalidade e uso histórico em combates corpo a corpo.
7. Facas gaúchas (virilheira/cordeadeira)
Muito popular na região sul do continente americano — especialmente no Brasil, no Uruguai e na Argentina —, essa faca é uma ferramenta icônica e versátil que se destaca entre os mais tradicionais tipos de lâminas e não pode faltar no arsenal de facas para cozinha de um gaúcho!
Sua lâmina geralmente possui fio reto ou levemente curvado, combinada com um dorso ligeiramente inclinado. Esse formato permite que o fio delicado, mas eficiente, funcione bem em cortes precisos enquanto oferece todo o controle durante o manuseio.
Tradicionalmente utilizada por tropeiros e trabalhadores rurais, a faca gaúcha é conhecida por sua praticidade, sendo amplamente usada tanto em cozinhas quanto em atividades ao ar livre. Sua durabilidade e estética simples a tornam uma peça indispensável em muitas culturas sul-americanas.
8. Faca tanto
Uma lâmina com origem japonesa que possui uma ponta angular e um design robusto. Muito utilizada em artes marciais e como arma de combate, sua ponta é extremamente resistente, ideal para cortes pesados em materiais mais densos. É também popular em facas de sobrevivência modernas por conta de sua robustez e potencial para cortar materiais mais rígidos, como a madeira.
Mas mesmo com sua origem voltada para o combate e sobrevivência, destacamos também seu potencial culinário, já que sua afiação também preconiza a precisão e pode ser usada para cortar mesmo ingredientes delicados — como peixes e legumes — com precisão.
9. Faca recurva
Inspirados nas adagas persas, esses tipos de lâminas em fio possuem uma curvatura dupla, com uma área côncava próxima ao cabo e uma convexa na extremidade. Isso proporciona maior eficiência em cortes puxados e golpes de impacto e, por isso, é uma escolha popular para facas de combate e utilitárias há anos.
Outra vantagem da dupla curvatura em meio aos seus cortes do cotidiano está na boa fixação junto à fibra, proteína ou qualquer outro material que você deseje partir. Isso faz com que a lâmina possa manter um encaixe após a sua incisão e, assim, te ajude a fazer um corte preciso.
10. Faca wharncliffe
Similar à sheep foot, mas com uma linha de fio reta e dorso que desce gradualmente. Muito utilizada em trabalhos manuais e atividades que demandam cortes controlados. Essa faca é bastante comum em EDCs (Everyday Carry) devido à sua versatilidade.
Esperamos que tenha gostado de mais um material exclusivo do Mundo CIMO! Reunimos aqui 10 dos mais tradicionais e conhecidos tipos de lâmina para você explorar todos esses potenciais no universo da cutelaria.
Siga no nosso blog aprofundando seus conhecimentos ao aprender mais, por exemplo, sobre os melhores tipos de aço para a cutelaria e como aplicá-los da melhor forma em cada projeto.
Nos vemos no próximo post, cuteleiros! Até.
Sobre o autor
Junior Dorigatti
Junior Dorigatti é engenheiro, diretor industrial e sócio responsável pelo desenvolvimento de produtos na Cutelaria CIMO
Especializado em design de produto, o autor trabalha a mais de 20 anos com cutelaria, desenvolvendo mais de 100 projetos de produtos e aplicações no ramo. Entre os seus conhecimentos, a ampla experiência em cutelaria é o destaque - desde detalhes técnicos que vão do tratamento térmico ao design das lâminas.
O autor também conhece as etapas de fabricação de canivetes e facas, desenvolve temas sobre como escolher e identificar o uso correto das lâminas de facas e canivetes, além de fomentar novas tecnologias e inovações da cutelaria.
Para amadurecer o setor de cutelaria nacional, está disposto a fornecer ótimas informações sobre as mais diversas áreas do tema que vão do uso às diferenças dos produtos.
